quarta-feira, 27 de abril de 2022

Grandia - Análise


Produtora: Game arts
Publisher: ESP Software SEGA Sony PSX
Plataformas: Sega Saturn, Playstation
Lançamento: Japão 18 de Dezembro 1997 (SEGA)
EUA 30 de Setembro 1999 (PSX)
Gênero: RPG
Número de Jogadores: 1 (um)


Trailer



"Dungeos secretas, armas secretas"

   Numa época onde a Squaresoft já estava prestes a lançar a lendária sétima edição do seu salvador Final Fantasy, uma nova, ainda tímida e ousada desenvolvedora colocaria no mercado um jogo que se tornaria um dos melhores RPG's da geração 32 bits. Desenvolvido pela Game Arts [mesma desenvolvedora da franquia Lunar], Grandia demorou três anos para ficar pronto [para a época era bastante tempo] e já nasceu com a difícil missão de concorrer contra o majestoso Final Fantasy VII



   Originalmente lançado em 1997 através da EPS Software para o Sega Saturn, o jogo foi ao mercado somente no idioma japonês, o que frustrou muitos gamers do ocidente. Durante um bom tempo foi prometida uma versão em inglês, mas somente em 1999 a Sony Computer Entertainment colocou essa versão no mercado, e para a infelicidade dos donos do Sega Saturn a versão americana saiu apenas para o Playstation. Poucas foram as mudanças entre uma versão e outra, porém enfatizaremos as principais nessa análise.
   Grandia possui uma história bem complexa, cheia de mistérios e reviravoltas, que começa da forma mais simples possível. A trama gira em torno do jovem Justin, nascido e residente na cidade de Parm, Justin mora apenas com sua mãe Lilly no segundo andar de um restaurante, que também é o ganha pão de sua família. Seu pai foi um valente aventureiro, mas morreu quando o mesmo ainda era jovem, deixando-o uma única herança, uma espécie de pedra misteriosa [dinheiro que é bom...]. Entre os habitantes dessa pequena cidade está Sue, uma carismática garota de cabelos roxos que é amiga de infância do protagonista Justin. Sue possui um inseparável animal de estimação chamado Puffy [Pooie na versão japonesa], que é algo como uma bolinha amarela com assas.





   A história de Grandia acontece em um mundo que está passando por um crescente desenvolvimento tecnológico, devido a tecnologias encontradas em vestígios de uma sociedade antiga que está sendo descoberta em uma escavação.
   O jogo começa com uma brincadeira simples e inocente: Grantz, o brutamontes malvadão da cidade, escondeu quatro artefatos "sagrados" pela cidade de Parm, que nada mais são do os equipamentos básicos de um guerreiro: uma espada, um elmo, um par de botas e uma armadura. Justin precisa encontrar os quatro artefatos até o fim do dia, caso contrário Sue terá que se casar com Grantz [não tente fazer isso na vida real]. Sue encontra e entrega o primeiro artefato para Justin e os outros três ficam à cargo do jogador encontrar. Até então nada que envolva apocalipse, forças malignas ou salvação da humanidade




.
   A história do jogo começa a transparecer no momento em que os dois decidem fazer uma visitinha no local das escavações citadas dois parágrafos atrás. Chegando lá os nossos heróis acabam descobrindo segredos de uma civilização antiga da raça Icarian, e descobrem também que essa antiga raça tem algo relacionado com a pedra que pai de Justin o deixou. Nessa escavação eles conhecem Liette, uma estranha e misteriosa jovem que guia os heróis no começo do jogo, dando uma rápida explicação sobre a situação em que o mundo atual verdadeiramente se encontra, todavia sua explicação levanta mais perguntas do que respostas. Liette diz para Justin que as respostas que ele procura podem estar na cidade de Alento, do outro lado do mar. E é a partir desse momento que nossos heróis começam sua incrível jornada em busca da verdade.
   Os principais vilões do jogo são Mullen e seu pai, o General Baal, que aparecem tendo um estranho diálogo na primeira cena do jogo. Apesar dos métodos de Baal serem questionáveis, os motivos pelo qual o mesmo vai contra nossos heróis é plausível, contudo não diremos aqui para não estragar a experiência. Ficará a critério do jogador descobrir. Do lado dos vilões também temos Nana, Saki e Mio, três bruxas que trabalham com Baal e que são responsáveis por grande parte da carga humorística do jogo devido aos seus divertidos diálogos. Essas três personagens possuem claras inspirações nas personagens do anime Guerreiras Mágicas de Rayearth.




   Ao todo o jogo possui oito personagens jogáveis, contudo o grupo suportará no máximo quatro, ou seja, quando o roteiro colocar um novo personagem na sua equipe de quatro heróis não se anime muito, pode contar que ele vai tirar algum dos atuais no mesmo momento. Cada personagem possui uma classe diferente, é especializado em uma arma diferente e também possui magias e técnicas diferentes, variando ao máximo para evitar que as batalhas tornem-se maçantes e repetitivas, uma das missões mais difíceis de um jogo de RPG de turnos.
   A jogabilididade é um dos pontos fortes do jogo. Ambientado em um cenário tridimensional, é possível movimentar a câmera com bastante liberdade para qualquer um dos lados. Nas cidades é possível ver o mapa em um ângulo panorâmico, tornando a exploração muito mais fácil. Esse mesmo recurso também está disponível nas dungeons, mas apenas em alguns pontos específicos e pré-definidos, marcados com um ícone parecido com um pássaro azul [Talvez o Elon Musk queira comprá-lo também].



   Existem várias maneiras de interagir com o cenário, seja para procurar tesouros escondidos, fuçar atrás de itens nas prateleiras ou apenas para saber o que é aquilo ali no chão. Dezenas de NPC's ficam espalhados pelas cidades, todavia a grande maioria deles não tem grande importância para a história, sendo poucos os que revelam alguma informação que seja, de fato, útil. A história é praticamente linear e mesmo havendo alguns momentos em que é possível fazer algumas escolhas, o jogo segue sempre o mesmo caminho e possui apenas um desfecho.
   Outro sistema que merece destaque é a bússola, que se encontra no canto inferior esquerdo da tela. Quanto o jogador está em alguma cidade ela fica apenas girando desenfreadamente, porém quando o jogador se encontra em uma dungeon a bússola pode indicar tanto o caminho para a saída, como para a entrada, alternando entre L2 e R2. Quanto mais perto da saída [ou entrada] o jogador estiver, mais rápido o ponteiro gira em torno de si mesmo. Sistema mais do que útil, já que com a possibilidade de girar a câmera fica fácil perder a noção de lugar ou direção que se deve seguir.


   O esquema de save é bem padrão para esse tipo de RPG: o jogo pode ser salvo a qualquer momento desde que o jogador esteja no mapa mundi, mas fora isso, existem também vários saves points que estão espalhados pelo mundo em forma de uma pirâmide amarela e vão além de apenas salvar, já que possuem ao todo três opções: 
  1. Salvar: é possível salvar seu progresso no cartão de memória [mahh vá!]; 
  2. Curar: é possível curar todo o HP e MP, como também os status negativos como veneno e paralisia; 
  3. Dica: comando que só está disponível no começo do jogo e dá ao jogador instruções sobre o funcionamento dos sistemas básicos.
   Devido à grande quantidade de itens, armas e equipamentos que o jogador pode encontrar durante a jornada, Grandia possui um sistema de baú muito similar ao encontrado nos jogos do Resident Evil. O baú é acessado através de um ícone parecido com uma mochila, que pode ser encontrado em lojas e hotéis, e também na casa de Justin. Caso o jogador deposite um item no baú, poderá retirá-lo quando quiser, em qualquer outro baú em qualquer lugar do mundo. Como a quantia de itens que o jogador pode carregar é limitada, esse sistema certamente é indispensável.




   O jogo segue o clássico estilo de evolução baseado em níveis e pontos de experiência. Ao derrotar os inimigos, os heróis recebem uma quantia de pontos de experiência, ao alcançar uma quantidade X o personagem sobe de nível, aumentando uma pequena porcentagem de seus status. Além disso o jogador também pode evoluir armas e magias separadamente, por exemplo: caso o jogador queira que Sue aprimore sua perícia no elemento fogo, poderá usar qualquer magia relacionada ao elemento e não somente uma em específico. Quanto maior o nível da magia, mais rápida e mais efetiva a mesma se torna, e a mesma regra se aplica às habilidades com armas.
   O sistema de batalha também recebeu uma atenção especial. Ao contrários dos Final Fantasy's, em Grandia não existem batalhas aleatórias, todos os monstros podem ser visto no mapa, assim dando ao jogador a possibilidade de evitá-los caso julgue melhor. O combate pode ser iniciado de três maneiras diferentes: 

  1. Se o jogador estiver fugindo de um monstro e o mesmo alcançá-lo pelas costas, o time inimigo começa com a vantagem de ataque; 
  2. Caso o jogador chegue sorrateiramente até o monstro e pegue-o pelas costas, o time dos heróis é que começa com a vantagem de ataque; 
  3. Caso ambos, herói e inimigo, se encontrem frente a frente, nenhum dos dois terá vantagem.



   Agora falando do combate em si, Grandia possui um sistema de batalhas bem interessante que lembra de longe o clássico Chrono Trigger. Ao iniciar-se o combate, o jogador é levado a uma outra tela, onde há no canto inferior direito da uma barra. Nessa barra existe um espaço vago no começo, perto do final uma marcação em que está escrito "Com" e ao final da barra uma outra marcação escrito "Act". A batalha segue da seguinte maneira: nessa barra é possível ver o rosto de todos os heróis do time, assim como também o dos inimigos. Esses pequenos rostos deslizam do começo da barra em direção ao final, sendo que quanto maior a velocidade do personagem, mais rápido seu rosto deslizará sobre a barra. Quando o rosto de um dos personagens aliados chega até a marcação "Com", o jogador precisa escolher qual comando o personagem em questão deve usar, feito isso somente quando o rosto chegar em "Act" é que o personagem irá executar o comando


   Os mecanismos de batalha em si também são muito interessantes e oferecem ao jogador várias possibilidades. Além de atacar com golpes físicos ou magias, usar itens e fugir, também é possível se mover pelo cenário em que ocorre o combate. Tudo isso é possível através de uma série de opções que são fornecidas durante o quebra pau dos personagens:
  • Combo: o herói se desloca até o inimigo selecionado e desfere dois ataques físicos. Caso o inimigo esteja em movimento no momento do golpe há a possibilidade do mesmo esquivar. Se o inimigo morrer já no primeiro golpe desferido, o herói se desloca até o inimigo mais próximo e desfere o segundo ataque. Cada ataque recupera um ponto SP [Skill Points, necessários para usar as técnicas das armas e magias];
  • Critical: o herói se desloca até o inimigo selecionado e desfere  apenas um ataque físico mais forte. Esse movimento recupera dois pontos de SP;
  • Skills/Magic: o herói carrega a magia ou técnica selecionada em sua lista e então desfere no inimigo. Algumas técnicas necessitam do deslocamento dos heróis até o inimigo e algumas não. O tempo que a magia demora para ser carregada é definido pelo seu nível, sendo assim quanto maior o nível da sua magia, menos tempo o herói ficará carregando e consequentemente menos tempo ficará vulnerável aos ataques inimigos;
  • Implements: nessa opção o herói pode usar algum item de batalha, poções de cura, bombas, antídotos, entre outros. Cada herói possui seu próprio acervo de itens e eles não são compartilhados, caso todos os itens de cura estejam com o mesmo personagem e ele acabe morrendo e combate, sentimos dizer mas você se ferrou;
  • Defense: esse comando fornece duas opções, defesa e evasão. Caso escolha defesa, o herói se mantem na defensiva, e se tomar algum dano durante esse período o mesmo será reduzido cerca de 30%. Caso escolha evasão, o jogador deverá escolher um ponto do cenário de combate para o qual o herói vai se deslocar e se manter até o próximo turno.
  • Look: permite ao jogador ver os status, tanto dos heróis como dos inimigos. Algo parecido com a magia Scan da franquia Final Fantasy, porém em Grandia se encontra como uma opção no menu de batalha;
  • Strategy: ao escolher essa opção para um herói, o jogador terá que escolher uma ação. Essa ação será replicada pelo herói em questão até o final da batalha sempre que for a vez dele jogar;
  • Conflict: essa é a opção para fugir da batalha. Além de nem sempre funcionar, quando funciona o jogador voltará a tela de exploração, mas o inimigo continuará no mapa. O jogador terá invulnerabilidade a batalhas durantes alguns segundos para tentar fugir do inimigo.



   Mediante essa série de possibilidades, a única ocasião em que a batalha pausa é durante as animações das magias, fora isso a batalha segue do começo ao fim de forma continuada, enquanto o jogador escolhe os comandos, itens e técnicas, os inimigos fazem o mesmo simultaneamente. Nada de ficar apertando o botão de ataque a batalha toda enquanto lê o detonado na revista [ou assiste no Youtube].
   Os gráficos do jogo são fascinantes, levando em conta a época em que foi desenvolvido. O jogo trabalha com um sistema gráfico que usa personagens bidimensionais em cenários tridimensionais, o oposto do usado nos Final Fantasy's da época. Os heróis são sprites 2D simples e com o máximo de detalhes possível para sua resolução, bem trabalhadas e coloridas, enquanto o cenário é todo tridimensional com uma coloração um pouco mais opaca, retratando um mundo que não é nem muito medieval e nem muito futurista. Como é possível girar a câmera, também é possível notar vários detalhes espalhados pelos cenários, vão desde quadros, tapetes, lanternas, colheres, animais de estimação, entre outros. Várias partes da história são explicadas através de cenas de CG em formato de anime, com traços lisos  e firmes e uma paleta de cores muito variada.



   A diferença gráfica entre as versões do Sega Saturn e do Playstation é bem sutil, contudo é possível notar que as animações de magias e técnicas de batalha receberam um tratamento especial e uma repaginada no visual, não é nada muito significativo, mas perceptível.
   A sonoplastia de Grandia também está entre seus pontos fortes. A ambientalização dos cenários é espetacular, pode-se ouvir pássaros, apito dos navios, o vento entre as árvores, o latido dos cachorros. Ao entrar em lojas e tavernas pode-se ouvir, além da música ambiente, também todas as pessoas conversando, canecas batendo no balcão, barulho de panelas e talheres e tudo isso retratado de uma forma fenomenal para a época. Existem dezenas de música de fundos que variam de uma cidade para outra e de um continente para outros, sendo que raramente se tornam enjoativas. Todos os heróis possuem suas dublagens, tantos nos diálogos principais como também nas skills de batalhas. Cada magia, dano, esquiva, comemoração e demais sons vocais de cada um deles possui sua própria personalidade. É válido destacar que o trabalho de dublagem feito em japonês é visivelmente superior ao americano.



   Apesar de ser um prato cheio para os fãs de clássico RPG japonês, o fator "replay" do jogo é bem fraco, já que o mesmo possui apenas um final. Não há muitas variações de caminho e o jogo segue uma linha do começo ao fim, as opções existentes para prolongar a vida útil do jogo são algumas dungeons secretas, armas secretas e outras coisinhas secretas.
   Como todos já sabemos, mesmo apesar de suas qualidades e inovações, Grandia não conseguiu, nem de longe, bater seu concorrente FFVII, que acabou se tornando um dos maiores clássicos entre os fãs de RPG e até hoje é um dos jogos mais cultuados do mundo dos vídeogames, mas isso de maneira alguma ofusca o brilho dessa obra da Game Arts, que ainda lançou duas continuações nas gerações seguintes. Com seus sistemas consideravelmente inovadores e bem sucedidos, Grandia é, aos entusiastas e fãs dos clássicos RPG's japoneses, um jogo indispensável na coleção. Se você ainda não jogou, reserve umas dezenas de horas de sua vida para fazê-lo, nós da Taverna garantimos: não haverá arrependimentos!






RESUMO

Prós:

- Enredo cativante
- Sistema de batalha dinâmico
- Diversas opções de Upgrade
- Bons alívios cômicos

Contras:

- Baixo fator replay

GAMEPLAY PS1

GAMEPLAY SEGA SATURN





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