Taverna GameMania: RPG Maker: De onde vem? O que é? Pra que serve?

Saudações nobres e bêbados frequentadores da Taverna, recentemente estávamos pensando em alguns métodos para diversificar um pouco mais o conteúdo e o público do nosso site, não que estejamos descontentes com a situação atual, muito pelo contrário, estamos muito satisfeitos com o feedback que o site vem nos trazendo, porém abranger um novo público e aumentar o conteúdo é sempre uma boa pedida. Queríamos fazer algo mais envolvente, que interagisse mais com o público e que não fugisse do nosso tema, que são os games, e pensando nisso, lembramos do RPG Maker, uma fantástica ferramenta de criação da qual passamos alguns anos trabalhando e acumulando conhecimento, e agora, com o suporte do site, podemos compartilhar esse conhecimento com as outras pessoas.

Mas antes de qualquer coisa, precisamos esclarecer: o que é esse tal RPG Maker?

RPG Maker nasceu em 1988, originalmente criado pela empresa ASCII [posteriormente comprado pela Enterbrain] e distribuído somente no idioma japonês. Essa ferramenta fornecia ao usuário a possibilidade de produzir um jogo de RPG do zero, sem nenhum conhecimento de programação, precisando apenas de dedicação e força de vontade [e paciência, claro]. O RPG Maker começou com um jogo de console, ou seja, um jogo para fazer jogos, porém as versões de console, apesar de várias, não foram muito bem aceitas, já que os recursos eram super limitados e a distribuição dos jogos produzidos era muito complicada. Com o tempo a ASCII notou que os consoles não eram seu público ideal, e então surgiu a primeira versão para PC, o RPG Maker 95, publicado em 28 de Março de 1997, também completamente em japonês, o que dificultava muito o uso no ocidente, já que convenhamos, entender inglês ou espanhol básico é uma coisa, agora japonês não tem meio termo, ou você sabe ou não sabe, e garanto que grande parte do ocidente não sabe!

O RPG Maker 95 fornecia a possibilidade de criar jogos de RPG no mesmo estilo dos clássicos do Super Nintendo, como Final Fantasy, Breath of Fire, Chrono Trigger, entre outros, usando de uma série de recursos que já acompanhavam o programa, como personagens prontos, chipsets [gráficos usados para fazer mapas], musicas de fundo, efeitos sonoros e tudo mais que era necessário para o desenvolvimento de um RPG, esse pacote de recursos era intitulado RTP [Run Time Package]. Todavia as possibilidades da versão 95 ainda eram bem escassas e não se tinha toda a liberdade necessária para deixar o jogo do seu jeito. Foi então que alguns anos depois foi lançado do sucessor do RPG Maker 95, intitulado RPG Maker 2000.

Foi aí que a revolução começou! Podemos dizer sem receio que o RPG Maker 2000 é o grande responsável pelo sucesso do programa, com um esquema de eventos muito bem elaborado, era possível desenvolver sistemas complexos e muito bem trabalhados. Mas o antigo problema persistia, o software continuava apenas em japonês. Foi então que um russo, conhecido apenas como Don Miguel, do qual todos devemos agradecer, fez a tradução do software para o inglês, facilitando a vida de toda a metade do globo que não sabe japonês. Claro que tanto a tradução como a distribuição gratuita do software eram ilegais, já que o RPG Maker era e ainda é um software pago, mas a Enterbrain tem mais é que agradecer, já que se não fosse o Don Miguel, talvez a ferramenta nunca chegasse ao Ocidente e não alcançasse o sucesso que alcançou. Don Miguel também participou na tradução do RPG Maker 95, mas em 2002 recebeu um aviso da Enterbrain e teve que parar com suas atividades.

Como o mais difícil, que era traduzir do japonês, já está feito, não demorou para aparecer uma tradução em português, e a extinta Central Brasileira de RPG Maker foi a responsável pela primeira tradução em PT-BR para o software. A tradução ainda era confusa e algumas expressões não tinham nexo, mas facilitou muito a vida de quem não tinha familiaridade com o inglês.

Nessa época começaram a pipocar diversos sites que forneciam recursos usados no RPG Maker para download, personagens de séries famosas como Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco, chipsets novos, músicas e efeitos sonoros ripados de outros jogos, entre outros, dando assim a liberdade ao jogador de fazer o jogo como quiser, com os personagens que quiser no mundo que quiser. Também começaram a ser disponibilizados tutoriais para criação de seus próprios recursos, dando assim a possibilidade de criar um jogo completamente exclusivo.

Depois que o RPG Maker 2000 começou a se espalhar pelo mundo, juntamente com uma imensidade de recursos, teve início uma fase onde jogos eram produzidos aos montes, dezenas, diria até centenas, entretanto a maioria era de baixa qualidade, feitos as pressas e sem o devido capricho. Em contrapartida a isso, alguns makers mais assíduos passaram a se empenhar em descobrir qual o limite da ferramenta, e chegaram à incrível conclusão de que não existe um limite! Isso mesmo, através de dedicação, empenho e o conhecimento profundo de todas as funções da engine, era possível construir sistemas complexos, como menus customizados, transições de dia para noite, jogos de estilo plataforma, sistema de criação de armas, e o principal, sistemas de batalha customizados, já que o sistema em primeira pessoa, original do maker, em geral não agradou o público. Nisso começaram a surgir os portais nacionais e fóruns sobre discussão da ferramenta, os maiores portais dessa época eram a Maker Universe e a RPG Menace [que devido à uma série de acontecimentos acabaram se tornando rivais].

Porém um grande marco do RPG Maker no Brasil ainda estava por vir, quando o canal #RM2k realizou um concurso de jogos e reuniu mais de cinquenta participantes. Nesse concurso grandes nomes do RPG Maker foram revelados, como Fareon Knights e A Lenda de Kaiser. Mesmo hoje já existindo várias versões mais recentes e com mais recursos, o RPG Maker 2000 ainda mantém uma leva de fiéis usuários e ainda sobrevive perante seus sucessores!

Passamos mais alguns anos e temos o lançamento do RPG Maker 2003, particularmente minha versão favorita da engine. O RPG Maker 2003 não tinha muitas mudanças em relação a versão anterior, mas as poucas mudanças que existiam eram significativas. Para começar, o odiado estilo de batalha em primeira pessoa foi eliminado, dando espaço a batalha com visão lateral, ao maior estilo Final Fantasy. Além disso, mais alguns eventos foram incorporados, o sistema de variáveis foi melhorado, era possível usar dois timers de uma só vez e também era possível usar mais teclas do teclado no jogo. Vale dizer também que a essa altura já existiam milhares de recursos para serem baixados na internet, além de softwares que auxiliavam na criação de seus próprios recursos, extremamente úteis para quem não manjava nada de pixel art, como o Charas Project e o Face Maker.

Alguns anos mais tarde tivemos uma nova revolução na cena maker! Surgia o RPG Maker XP, engine que suportava recursos de maior qualidade e dava a possibilidade de desenvolver jogos graficamente mais bonitos. Mas isso não era tudo, apesar de possuir uma quantidade de eventos menor do que a das versões anteriores, o RPG Maker XP incorporou uma linguagem de programação própria, chamada de RGSS [Ruby Game Scripting System]. Através do Ruby, as possibilidades, que já eram infinitas, passaram a ser mais infinitas ainda ![?]. Era possível fazer qualquer coisa, sistemas amplos e sofisticados, HUDs coloridas e funcionais, menus customizados precisos, scripts que diminuíam o lag do jogo, era possível até mesmo desenvolver MMORPGs! Era o começo de uma nova era, que durante um bom tempo se desenvolveu de forma inimaginável, alguns makers se especializaram em RGSS e passaram a desenvolver e distribuir gratuitamente vários scripts prontos para outros makers usarem. Mas como tudo tem os dois lados, foi aí que começou a fase dos jogos "bonitos mas ruins". Perante a facilidade que era copiar um script da internet e colar no RPG Maker, diversos makers iniciantes passaram a encher seus projetos de incríveis scripts de terceiros, mas acabavam deixando de lado o principal ponto de um RPG: a história! Víamos dezenas de jogos com os mesmos scripts, mesmos recursos e uma poucas mudanças na história, variando entre pedras elementais, deuses místicos e o fato do personagem principal ser "o escolhido". Foi então que o termo "clichê" passou a se popularizar no mundo maker, e jogos que seguiam essa velha receita de clichês enjoativos eram rapidamente repudiados pela comunidade.

Um tempo depois surgiu o sucessor do RPG Maker XP, intitulado RPG Maker VX. Segundo a Enterbrain, a ideia do RPG Maker VX era facilitar a vida dos makers iniciantes. Aperfeiçoando a linguagem de programação Ruby, dessa vez chamada de RGSS2, o VX possuía uma interface mais agradável e menus mais organizados, a engine foi muito bem recebida pelo público. Uma das críticas para essa versão do RPG Maker ficava por conta de seu RTP, que apresentava personagens em tamanhos muito diminuídos e chipsets extremamente quadrados, problema que felizmente foi logo sanado pelos criadores de recursos, que aproveitando o avanço na qualidade gráfica, podiam criar recursos muito mais bonitos e detalhados, que até então não podiam ser usados devido às limitações do software.

Hoje a versão mais recente do RPG Maker é o RPG Maker VX Ace, que nada mais é do que o próprio VX com algumas melhorias, entre elas a adição de algumas características aprovadas do XP e o suporte de criação de personagens. Também existe uma versão melhorada e não oficial do RPG Maker 2003 chamada de RPG Maker Ultimate 2009, que possui a interface do 2003 levemente melhorada, além de diversas melhorias nos eventos, entre elas o aumento do número máximo de variáveis e switchs, a possibilidade de usar todas as teclas do teclado no jogo e mais uma dezena de funcionalidades extras que facilitaram muito a vida de quem prefere as versões retrô do RPG Maker.

É claro que só o RPG Maker rende assunto para uma dezena de artigos, e convenientemente esse é o nosso objetivo, fazer uma seção exclusiva para essa ferramenta, mostrá-la a quem ainda não conhece e ajudar a quem está começando agora no mundo maker. Para isso precisamos da ajuda de vocês leitores, envie-nos dúvidas, sugestões, pedidos de tutorias, recursos, ou qualquer outra coisa que vocês achem que possamos ajudar. O e-mail para contato é tavernagamemania@live.com, mas podem usar qualquer outra forma de contato, como Facebook, Twitter, Instagram, entre outros. Aproveitando a oportunidade, não deixem de assinar nosso feed e receber todas nossas atualizações no conforto do seu leitor. Contamos com a participação de vocês!